Há algum tempo venho me
questionando sobre as mudanças pessoais e profissionais que atravessamos na
vida e como se dá esse processo. De início, creio ser da compreensão de todos
que mudar exige esforço e dedicação e, principalmente, gera desconforto. Não satisfeito apenas com esse sentimento
pessoal sobre as mudanças, comecei uma busca mais profunda para compreender os
processos comportamentais por trás das mudanças, sejam eles pessoais, grupais
ou organizacionais.
Desde o inicio de minha carreira
profissional atuando com treinamento e desenvolvimento de equipes e líderes e
atendendo meus pacientes em consultório de psicoterapia, sempre fui muito
indagado pelos clientes, gestores, sócios e acionistas como ser assertivo nos
processos de mudanças comportamentais e conseguir ter continuidade nesses
processos. Afinal, investe-se muito em programas de treinamento e
desenvolvimento, terapias, cursos e, por vezes, com poucos resultados efetivos.
Nessa busca impulsionada por
dúvidas pessoais e profissionais sobre o ciclo das mudanças, já há algum tempo
desenvolvemos uma linha de pesquisa sobre o tema. O assunto "mudança"
é de ampla possibilidade de compreensão e multidisciplinar, porém me ocuparei aqui
mais dos aspectos comportamentais da mudança, tema de nossa pesquisa. No entanto, é importante enfatizar que todo
processo de mudança, seja de ordem pessoal, profissional ou organizacional,
envolverá aspectos de conhecimentos e competências técnicas e comportamentais,
sem negligenciar um as expensas do outro.
Uma das pesquisas mais fascinantes já encontradas na
literatura científica sobre Mudança e
seus aspectos comportamentais é da médica psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross, que em sua obra clássica Sobre a Morte e o Morrer
apresenta os resultados de suas pesquisas com pacientes terminais. Esse modelo,
conhecido como Modelo de Kübler-Ross, muito estudado pelos alunos de
medicina e enfermagem como Processo do Luto e do Morrer, trata das experiências
da médica com seus pacientes terminais e suas famílias no processo de aceitação
da morte do familiar e da mudança na família que essa perda trará. Ampliando o
olhar sobre esse estudo logo começamos a encontrar algumas pistas interessantes
que podem nos ajudar a compreender o processo da mudança.
Em primeiro lugar precisamos nos permitir aceitar
que todo processo de mudança comportamental é um processo de morrer. Precisamos
morrer para velhos hábitos para nos permitir renascer para novos. Precisamos
dar espaço para o novo renascer dentro de nós. Todos desejam renascer, ninguém
quer morrer! Mudança de comportamentos, hábitos, competências exigem esforço,
dedicação, empenho, suor, lágrimas, luto, morte. Assim como mudanças nas
organizações também exigirão comprometimento, continuidade, ética, integridade,
apoio, estímulos, abandono de velhos padrões, morte de velhos comportamentos.
Em um sentindo ainda mais amplo eu arriscaria dizer que vida e morte se
complementam o tempo todo. A vida precisa da morte para poder continuar. O
velho precisa dar espaço ao novo, Como o bater do coração: sístole e diástole. O
eterno retorno de Nietzsche.
Talvez por isso muitos programas de mudança de
comportamentos e cultura organizacional fracassam, pois toda mudança vai ter um
tempo para ser incorporada no cotidiano das pessoas, e tempo é dinheiro! Pela
rapidez exigida por um mercado cada dia mais competitivo e veloz, nem todas
organizações conseguem esperar o tempo necessário para amadurecer os projetos e
já partem para novos. Num eterno retorno ao mesmo, sem continuidade em suas
crenças e valores e objetivos estratégicos que deveriam pautar todo programa de
mudança comportamental, que ao novo ver, deve ser contínuo e estruturado e
acompanhar toda a vida da organização, afinal vivemos a Era do Conhecimento.
O Ciclo das Mudanças é um convite ao novo. Um novo
olhar sobre o ser humano, esse des-conhecido em busca de sentido. Um novo olhar
sobre a gestão empresarial que deve começar a ampliar seu olhar para a
organização pós-moderna que necessita se reinventar para sobreviver. E a
reinvenção começa com um novo olhar sobre as pessoas, que são seres de hábitos,
resistentes as mudanças e que muitas vezes inconscientemente sabotam os
processos de mudanças para continuar em suas zonas de conforto. O empresário,
líder, gestor atual precisa buscar respostas para suas dúvidas e angústias em
outras áreas além das áreas já conhecidas como as áreas técnicas, financeiras e
de processos. Precisa ler Psicologia, Sociologia, Antropologia, para
compreender um pouco mais sobre esse desconhecido que é o ser humano. Os estudos
da médica nos ajudam a compreender um pouco mais sobre isso.
O tema fascina e desperta interesse, pois como diria
o velho sábio filósofo grego Heráclito Nada é permanente, exceto a mudança!
Moacir César de Borba Júnior
Psicólogo,
Consultor Organizacional, Facilitador e Palestrante. Possui MBA em Recursos
Humanos e Pós-graduando em Dinâmica de Grupos. Consultor parceiro da Fundação
Fritz Muller de Blumenau. Sócio Diretor da Addção Desenvolvimento de Pessoas, consultoria
focada em Coaching, Treinamento e Desenvolvimento Comportamental de Equipes e
Líderes, Diagnósticos Organizacionais e Estruturação e Mentoring nos
Subsistemas de RH.